Sandra
R.S.Gasparini
A
obesidade é uma síndrome, com várias causas,
caracterizada por um excesso de tecido gorduroso e ser classificada
em várias modalidades.
Quanto ao seu início, podemos classificá-la em:
- obesidade
de longa data - indivíduos obesos desde criança;
é a forma de mais difícil tratamento e entre
as causas existe a predisposição genética
(herança familiar) e a hiperalimentação
precoce;
- obesidade
da puberdade - aparece na puberdade, é predominante
em mulheres, tem como causas angustias e ansiedades desta
fase da vida e alterações orgânicas;
- obesidade
da gravidez - na gravidez e no pós parto, também
por fenômenos psíquicos e/ou orgânicos;
- obesidade
por interrupção de exercícios - comum
em esportistas que ingerem grandes quantidades de calorias
e param de fazer exercícios, ou seja, deixam de gastá-las;
- obesidade
secundaria a drogas - alguns medicamentos como os corticóides,
os antidepressivos e os estrógenos podem induzir a
um ganho de peso;
- obesidade
após parar de fumar - a explicação é
que a nicotina aumenta o gasto calorico por sua ação
lipolítica; também é responsável
por perda de apetite;
- obesidade
endocrina - somente 4 porcento das obesidades se enquadram
nesta etiologia, que inclue doenças da tireóide,
do pâncreas e da supra renal.
Por
esta classificação já podemos concluir
que a obesidade não é característica de
pessoas com "falta de vontade para emagrecer, relaxadas
com sua aparência e etc", mas de pessoas com uma
doença e que deve ser tratada como tal. Sabe-se hoje
que muitos hormônios como a adrenalina, a serotonina,
a dopamina e a nor-adrenalina estão envolvidos em respostas
como humor, ansiedade, saciedade e ate as reações
psíquicas tem seu lado físico. Portanto, a obesidade
hoje é vista como uma patologia crônica e deve
ser tratada.
Outra
forma de classificar a obesidade é pelo peso, que reflete,
não necessariamente (a musculatura também pesa),
o excesso de gordura. Os critérios utilizados para medir
o tecido adiposo são variados. Podemos citar a correlação
do peso/altura (tabela do Metropolitan Life InsuranceCompany),
medidas de espessura de prega cutânea e o índice
de Quetelet ou Índice de Massa corpórea (IMC).
O
IMC é obtido pela divisão do peso em Quilos pela
altura ao quadrado (expressa em metros). Podemos classificar
o peso em categorias, de acordocom o IMC.
CATEGORIA |
IMC |
variação
aceitável |
20 - 25 |
excesso de peso |
25 - 30 |
obesidade |
30 - 40 |
obesidade extrema |
maior 40 |
A
importância desta classificação reside no
fato estatístico de que pessoas classificadas como obesas
apresentam um risco muito maior de doenças como adislipidemia,
o diabetes, as doenças cardiovasculares,
a hipertensão arterial, a gota,
a osteoartrose e conseqüentemente
maior risco de morbi-mortalidade.
O
principal mecanismo da obesidade é um desequilíbrio
entre a formação e a destruição
de células adiposas no organismo. Simplificando: o que
comemos (medido em calorias) favorece a formação
de células adiposas e o que gastamos (gasto calorico)
favorece a destruição destas células; deste
modo temos obesos que comem muito e obesos que comem pouco ou
adequadamente mas gastam pouco (gasto calórico ineficiente).
Esta é outra forma de classificar a obesidade, ou seja,
quanto ao mecanismo envolvido na sua gênese. Esquematicamente:
- obesidade
por hiperfagia - são os obesos que comem muito, em
quantidade ou em qualidade (alimentos muito calóricos
- neste grupo estão incluídos os populares beliscadores).
Nem sempre a hiperfagia depende apenas de um auto controle.
Além dos mecanismos psíquicos envolvidos (depressão,
ansiedade, angustia, carência afetiva), estão
sendo cada vez mais descritas alterações orgânicas
condicionantes de hiperfagia (alterações no
centro da saciedade, alterações hipotâlamicas
e alterações de alguns hormônios gastrointestinais);
- obesidade
por gasto calórico ineficiente - aqui estão
incluídos indivíduos que tem vida sedentária,
os que comem proporcional ao gasto com exercício e
param de praticá-lo sem diminuir sua ingestão,
e os indivíduos que comem pouco mas tem a famosa tendência
para engordar. Sabemos que este último grupo de indivíduos
não tem o seu metabolismo basal diminuído, mas
gastam menos calorias para a digestão, absorção,
transporte e utilização dos nutrientes, ou seja,
são equipados energeticamente para serem obesos. Isto
seria uma vantagem em ambientes com escassez de alimentos,
como na idade da pedra, mas não hoje, onde a dieta
mundial é caracterizada por uma tendência em
direção a proporção maior de gordura
e a uma maior ingestão calórica total, como
podemos observar no esquema abaixo:
|
1950 |
1980 |
Açúcares
simples |
10% |
25% |
Amido |
43% |
23% |
Gorduras |
35% |
40% |
Proteínas |
12% |
12% |
O
mecanismo envolvido na gênese da obesidade é fundamental
para um tratamento adequado do paciente. Vale a pena lembrar
que os nutrientes que mais engordam, ao contrário do
que se pensa, são as gorduras - 1 grama de gordura tem
9 calorias, enquanto 1 grama de açúcar tem 4 calorias
- e que a maioria dos alimentos irresistíveis ao paladar
contem os dois componentes, como o chocolate, as massas, etc.
A
obesidade predispõe, como já disse, a uma série
de doenças. São também sintomas comuns
aos obesos o cansaço, a sudorese excessiva, principalmente
em pés, mãos e axilas, as dores nas pernas e colunas.
Quanto
ao tratamento da obesidade, podemos considerar que deve levar
em conta não só o lado estético, mas a
questão principal, que é a saúde do indivíduo.
Atingir um bom peso deve vir acompanhado de mudanças
no habito alimentar, condicionamento físico e saúde
psíquica, proporcionando condições para
um crescimento, amadurecimento e envelhecimento saudáveis.
O tratamento da obesidade inclui medidas dietética, exercícios
físicos, se necessário medicação,
e tratamento das condições associadas com a obesidade.
DIETA
A
dieta para emagrecer deve ser orientada por profissionais habilitados,
para evitar distúrbios metabólicos e perda de
peso muito rápida. Esta perda muito rápida geralmente
é feita as custas de tecido muscular, o que é
absolutamente indesejável. Basicamente as dietas devem
ser hipocalóricas, fornecendo em torno de 1200 calorias
por dia; a gordura deve ser restrita ao mínimo possível.
Por exemplo, cozer os alimentos com menos óleo, não
temperar a salada e os legumes com óleo (só vinagre
e sal), evitar alimentos gordurosos, como os embutidos (salame,
presunto, etc), dar preferência ao queijo fresco (quanto
mais amarelo o queijo, maior o seu teor de gordura), laticínios
desnatados ou diet, não usar e abusar das frituras, preferindo
alimentos cozidos ou grelhados. Não esquecer que os diferentes
tipos de óleos e azeites não diferem muito no
seu teor calórico, mas sim no tipo de gordura que contém.
As gorduras associadas às carnes devem ser retiradas
antes de cozer. As bebidas alcóolicas e os açucares
(refrigerante, só diet ) também devem ser evitados,
para ajudar na diminuição das calorias totais.
A quantidade de proteína da dieta deve ser mantida.
As
dietas de muito baixa caloria (700 - 800 calorias) não
devem ser utilizadas sem critério, pois suas conseqüências
podem ser desastrosas. Segue uma tabela
de calorias de vários grupos alimentares para que
você possa balancear sua dieta. Divida o seu dia em quatro
refeições - café da manhã, almoço,
lanche da tarde e janta - e inclua no seu cardápio as
verduras, os legumes, os laticínios, as frutas, as carnes
e os cereais, e terá uma dieta adequada, com todos os
nutrientes necessários a boa saúde. Adquira este
habito, pois a tendência a engordar não desaparece,
e se você não mantiver as alterações
no seu comportamento alimentar, provavelmente será mais
um dos inúmeros obesos com o popular efeito sanfona -
emagrece/engorda/emagrece/engorda.
EXERCÍCIO
FÍSICO
Deve
ser realizado junto com a dieta, para aumentar o gasto calórico.
Os exercícios bons para perder peso são os mesmo
que condicionam o aparelho cardiovascular - natação,
caminhar, correr, bicicleta, aeróbica. Mas atenção:
a maioria dos obesos não fazem exercícios e tem
um baixo condicionamento - comece com exercícios leves
e de curta duração, como por exemplo caminhar
15 minutos por dia, e aumente progressivamente o tempo e a intensidade
do exercício. Exercícios como musculação
e ginástica localizada não condicionam o físico
e são ineficientes para ajudar a perder peso. Servem
para definir a musculatura e evitar a flacidez. A hidroginástica
não proporciona grandes perdas calóricas, mas
é uma alternativa para obesos que com problemas articulares
e de ligamentos ou tendão, que precisam de exercícios
de baixo impacto no aparelho locomotor. Além das vantagens
citadas, o exercício aeróbico também previne
a queda nas necessidades energéticas que acompanham o
emagrecimento.
MEDICAÇÃO
Apesar
da grande busca, ainda não existe um medicamento milagroso
para a obesidade, que permita aos homens comer de tudo e em
excesso sem ganhar peso. Cuidado com as grandes promessas, as
fórmulas sem rótulos, feitas em fundo de quintal,
as grandes ilusões que dolorosamente podem se transformar
em grandes problemas. Não existe mágica. As fórmulas
ditas naturais quase sempre vem misturadas com medicações
que só devem ser utilizadas por quem entende do assunto.
Os
diuréticos não devem ser usados - gordura não
é água. Os hormônios da tireóide
tem seu uso restrito e questionado. Os medicamentos mais usados,
na minha opinião até indiscriminadamente, são
os inibidores do apetite. Podem ser usados com moderação
e controle, em casos selecionados, e por tempo curto, após
o qual dão dependência e aumentam muito os riscos
de abusos de dose e dos efeitos colaterais, que ao contrário
do que se pensa podem ser graves e até fatais. Lembre-se
que as mudanças de hábito alimentar e os exercícios
são essenciais para a manutenção do peso
no decorrer da sua vida, já que o medicamento não
pode ser mantido indefinidamente.
Concluindo:
a obesidade é um grande problema pessoal e de saúde
pública, pois a maioria das sociedades gasta cifras enormes
com suas complicações. Mas, sejamos honestos -
por que não ficar "mais bonito" e mais saudável
também? Afinal qualidade de vida é muito importante
para o nosso bem estar.
Dra.
Sandra R. S. Gasparini
Geriatra e Gerontologia
CRM 67743
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