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DERRAME CEREBRAL: NOVAS PERSPECTIVAS
Derrame cerebral,
nome popular de acidente vascular cerebral ou simplesmente AVC.,
é a doença neurológica mais comum, constituindo-se
em grave ameaça para o idoso. É uma importante causa
de morte na velhice e também uma importante fonte de seqüelas.
Pode ocorrer em qualquer idade, mas é muito mais freqüente
em pessoas com mais de 65 anos. Em 80% dos casos são isquêmicos,
isto é, são devidos a súbita falta de sangue
em determinada região do cérebro, sem hemorragia.
Os hemorrágicos (por ruptura de artéria ou de aneurisma)
são mais raros e em geral mais graves, sendo o coágulo
intracerebral glossário uma complicação importante.
No jovem a causa mais comum de hemorragia cerebral é o
aneurisma intracraniano.
Cerca de
30 % das vezes, o AVC leva à morte. Algumas pessoas, também
cerca de 30% dos casos, ficam com seqüelas importantes que
exigem cuidados especiais. Outros 30% dos casos tem boa evolução
com poucas ou mesmo ausência de seqüelas . Setenta
por cento dos casos ocorrem acima dos 65 anos de vida e há
uma pequena predominância de homens. A raça negra
é duas vezes mais atingida do que a branca.
Até
bem pouco tempo não havia tratamento específico
para o derrame cerebral, e o que se fazia era tratar as seqüelas.
Algumas substâncias como a cortisona e os bloqueadores de
cálcio tem sido úteis nas hemorragias cerebrais.
Em algumas situações especiais há necessidade
de se realizar neurocirurgia, como na retirada de um coágulo
ou na clipagem de um aneurisma.
Recentemente
surgiram novas perspectivas no tratamento da isquemia cerebral.
A utilização de substâncias que destroem os
trombos ou trombolíticas e o aparecimento de medicamentos
que protegem a célula nervosa trazem novo alento ao tratamento
do derrame cerebral do tipo isquêmico.
rtPA -
O rtPA ou ativador do plasminogênio tecidual recombinado
é uma substância que destrói o trombo (trombolítica)
instantaneamente, desobstruindo a artéria, já sendo
utilizada há algum tempo para o tratamento do infarto agudo
do miocárdio. Deve ser utilizada nas primeiras horas da
doença, e nunca em acidente vascular cerebral hemorrágico.
A identificação dos primeiros sintomas da doença,
como formigamentos em um lado do corpo e problemas visuais, por
exemplo, são muito importantes para seu rápido diagnóstico.
É fundamental a realização de tomografia
cerebral para a exclusão de infarto cerebral hemorrágico.
A isquemia cerebral deve ser, então, considerada uma urgência
medica.
NEUROPROTETORES - Estão também em desenvolvimento, já em
fase de serem lançados comercialmente, medicamentos neuroprotetores,
que protegem a célula nervosa contra a ação
da falta de sangue ou isquemia. Citicolina e Atiganel são
denominados medicamentos neuroprotetores que sem duvida terão
contribuição importante no tratamento da doença
vascular cerebral e estão em vias de serem lançadas
comercialmente.
PET-SCAN - Novas observações quanto à função
cerebral também despontam como muito promissoras. O estudo
das lesões cerebrais, principalmente no que diz respeito
a sua extensão e evolução, está ganhando
nova dimensão. O tomógrafo denominado PET-SCAN,
que utiliza a emissão de pósitron, tem a capacidade
de avaliar detalhadamente o metabolismo de qualquer região
do cérebro, permitindo traçar prognósticos
precisos quanto à lesão cerebral, bem como permite
o acompanhamento detalhado do seu tratamento. Graças a
este aparelho poderemos observar detalhadamente a função
cerebral, desde o ato de falar como o de pensar, por ex. Ainda
há poucos PET-SCAN em funcionamento no mundo.
ENDARTERECTOMIA - A desobstrução das artérias carótidas
através de cirurgia denominada endarterectomia é
uma prática muito antiga (desde 1954), inicialmente muito
utilizada, mas que durante um longo período esteve em desuso
devido a observação de importantes complicações
que ocorriam no período perioperatório. Atualmente
a indicação de endarterectomia da artéria
carótida está bem estabelecida, sendo observado
pequeno numero de complicações, devendo ser realizada
em pacientes que apresentaram sintomas neurológicos transitórios
e que tenham uma oclusão da artéria entre 70 a 99%.
O resultado da cirurgia nestes casos é superior quando
comparado ao tratamento clínico com medicamentos. Alguns
serviços norte-americanos estão indicando a cirurgia
em oclusões menores de 70%. Evidentemente os melhores resultados
ocorrem nos serviços que apresentam maior experiência
e que possuem os profissionais com melhor habilidade.
CIRURGIA
ENDOVASCULAR - O tratamento de aneurisma e de mal formações
intracranianas com a utilização de cateteres especiais
já pode ser considera uma prática habitual em muitos
serviços de neurocirurgia. São procedimentos extremamente
simples, que utilizam tubos de plástico especiais e raios-x,
e que evitam a abertura cirúrgica do crânio. Este
procedimento também já está sendo utilizado
para a desobstrução de artérias intracranianas
com bons resultados.
UTI ESPECIALIZADA - Vários hospitais gerais estão montando Unidades
Especiais para o atendimento do Acidente Vascular Cerebral. São
UTIs voltadas aos cuidados especiais para com o doente que sofreu
o derrame cerebral, cujas vantagens e desvantagens estão
sendo muito discutidas. Tais unidades permitem um melhor controle
hemodinâmico dos pacientes, permitem um tratamento eficiente
de complicações trombo-embólicas e possibilitam
um inicio precoce de mobilização. O alto custo é
importante fator negativo.
PREVENÇÃO - Apesar de todas estas novidades que surgem no tratamento
do acidente vascular cerebral, ainda é a prevenção
o principal fator atuante sobre a doença. A identificação
correta do risco deve ser preocupação permanente
do medico que, através de exame minucioso, deve destacar
as possibilidades da doença. A identificação
de arteriosclerose familiar, o estudo cuidadoso do coração
e das artérias, procurando arritmias e sopros. O exame
do fundo de olho, sempre fundamental para a avaliação
do estado das artérias. O controle da hipertensão
arterial e do diabetes, bem como do colesterol e do peso. A eliminação
do tabagismo e da vida sedentária e o combate continuo
ao stress. Muitas vezes há necessidade de orientação
da dieta apropriada e também do uso de medicamentos.
Graças
a uma agressiva política preventiva visando o controle
dos fatores de risco para a doença vascular observa-se
uma queda da mortalidade da doença nos Estados Unidos da
América. Observa-se também uma queda importante
na prevalência da hipertensão arterial, do tabagismo
e da hipercolesterolemia.
O melhor
resultado no tratamento do derrame cerebral nunca será
igual ao daquele que teve sua doença prevenida.
DR JOÃO ROBERTO D. AZEVEDO |