Dra.Jane
Feldman
As complicações agudas do diabetes são
aquelas que se instalam rapidamente, em horas ou dias. As mais
graves são o coma ceto-acidótico, o coma hiperosmolar
e a hipoglicemia. Todas elas são graves e implicam risco
de vida, caso o paciente não seja tratado a tempo. Por
outro lado, são passíveis de tratamentos relativamente
simples, mesmo em hospitais ou prontos-socorros também
relativamente simples.
As
complicações agudas do diabetes em geral são
dramáticas, pois os pacientes estão bem e, em
pouco tempo, parecem estar gravemente enfermos. O lado bom é
que, se bem cuidados, em pouco tempo voltam a estar bem de novo.
Dentre as complicações agudas, destacamos as seguintes:
CETO-ACIDOSE
DIABÉTICA
A
ceto-acidose diabética é uma circunstância
que ocorre toda vez que não há insulina em quantidades
suficientes para metabolizar a glicose. Ela pode ser desencadeada
pela ingestão abusiva de carboidratos e por situações
de stress físico ou emocional. Stress físico ocorre
quando o paciente é acometido por uma outra patologia,
por exemplo uma amigdalite ou uma apendicite. Em situações
de stress o corpo libera uma grande quantidade de hormônios
hiperglicemiantes, isto é, hormônios que fazem
o açúcar sangüíneo se elevar. Como
não existe insulina em quantidade suficiente, as gorduras
e proteínas armazenadas começam a ser quebradas,
produzindo paralelamente substâncias ácidas conhecidas
como
corpos cetônicos. Quando isso ocorre a pessoa sente-se
muito mal. Pode ficar confusa, sua respiração
torna-se mais rápida e profunda, o hálito tem
cheiro de acetona, pode apresentar fraqueza intensa, náuseas,
vômitos e dores abdominais. A ceto-acidose é uma
complicação grave do diabetes. É mais freqüente
no diabetes insulino-dependente e pode levar à morte
se não for devidamente tratada. Apresentando esses sintomas
o paciente deve procurar imediatamente seu médico ou
um Pronto Socorro. O ideal é que a pessoa perceba quando
a glicemia está subindo, antes de chegar à fase
de cetose, através de sintomas como poliúria,
polidipsia, polifagia, perda de peso, sensação
de fraqueza, mal estar, visão embaçada, etc. e
procure o médico.
COMA
HIPEROSMOLAR
O
coma hiperosmolar não cetótico em geral se apresenta
no diabetes tipo II, freqüentemente sendo desencadeado
por excessos alimentares ou por uma doença intercorrente.
Como esses pacientes tem uma certa reserva de insulina, eles
não desenvolvem a cetose. Como o coma hiperosmolar instala-se
mais insidiosamente, os níveis de glicemia são
muito elevados e as principais queixas se devem à desidratação
e alterações a nível de sistema nervoso,
que variam, conforme a gravidade do quadro, de um
simples torpor a coma profundo. É também um quadro
de bastante gravidade e risco de vida se não for devidamente
tratado.
HIPOGLICEMIA
O
termo hipoglicemia significa que os níveis de glicose
no sangue estão abaixo do normal. A glicose é
uma das principais fontes de energia para nossas células,
mas para as células do sistema nervoso, é a única
fonte. Para essas células, ficar sem energia por tempo
prolongado pode produzir danos severos e irreversíveis.
Para garantir o bem estar e o bom
funcionamento do organismo, como um todo, a glicemia deve ser
mantida dentro de limites estáveis, o que se consegue
através da interação entre ingestão
de glicose, sua liberação de depósitos
endógenos e a liberação de vários
hormônios. Hormônios da família dos glicocorticóides,
adrenalina, glucagon, hormônio de crescimento e a insulina
participam da
regulação dos níveis de glicose sérica.
Os dois primeiros são muito importantes em situações
de stress. Dentre estes, o mais importante é, sem dúvida
nenhuma, a insulina. A insulina, como já foi dito, é
produzida pelas células beta, localizadas nas ilhotas
de Langerhanz, no interior do pâncreas. O principal estímulo
à secreção de insulina é o
aumento dos níveis de glicose no sangue.
Em
geral quando há uma queda dos níveis séricos
de glicose, o paciente tem manifestações clínicas
que variam do imperceptível, passando por sensação
de sonolência, fome ou fadiga, cefaléia, tontura,
visão dupla, sudorese profusa, tremores, palpitação,
mudanças de humor, distúrbios de comportamento,
sensação de parestesia ou paresia até chegar,
nos casos
mais graves, a apresentar convulsões e coma. A hipoglicemia
é um distúrbio evitável. Pode ocorrer nas
seguintes situações:
- quando
o diabético omite refeições, atrasa suas
refeições ou come
muito pouco
- quando
apresenta vômitos e diarréia
- quando
pratica exercícios físicos excessivos (esportes
ou trabalho
pesado), principalmente não estando bem alimentado
- por
doses excessivas de insulina ou hipoglicemiantes orais
- por
excesso de bebidas alcoólicas, que impedem a liberação
de glicose
pelo fígado
Quando
o paciente apresentar sintomas, o ideal é que ele faça
uma determinação da glicemia, para confirmar o
diagnóstico de hipoglicemia. Isso é importante
para que ele aprenda a reconhecer os seus sintomas, mas para
seu médico essa informação é fundamental
na hora de fazer os acertos da medicação. No entanto
esse procedimento não deve retardar o tratamento da hipoglicemia,
que deve iniciar-se o mais prontamente
possível.
Muitos
diabéticos, com o tempo, podem não apresentar
sintomas de hipoglicemia, ou apenas uma leve sonolência
com a mesma. As razões para isso são complexas.
Os diabéticos susceptíveis a essa situação
devem evitar manter seus níveis de glicemia abaixo de
100 mg/dl, fazendo monitorizações de glicose com
maior freqüência. O objetivo imediato do tratamento
é elevar o açúcar no sangue, que se encontra
muito baixo, restaurando o bem estar. Para isso o paciente deve
ingerir alguma forma de açúcar de fácil
absorção:
- açúcar
comum ou água com açúcar
- bala,
bombom ou outros doces
- sucos
de fruta, leite ou outras bebidas contendo açúcar
(não adianta
usar bebidas ou outros alimentos indicados para diabéticos
pois estes
não contêm açúcar)
Se
o paciente estiver inconsciente, não administre líquidos.
É preferível colocar açúcar sob
a língua ou apenas na boca do paciente. Em caso de hipoglicemia
severa, essas medidas podem não surtir efeito. O paciente
deve então ser removido a um pronto-socorro, onde receberá
Glicose ou Glucagon injetáveis.
Pacientes
diabéticos devem sempre carregar balas ou bombons, juntamente
com um cartão de identificação de diabético.
Além disso, parentes e amigos devem sempre ser orientados
quanto ao que fazer nessas circunstâncias.
O
paciente portador de diabetes pode também dispor de Glucagon
em sua farmácia caseira. O Glucagon também é
um hormônio produzido pelo pâncreas, com ação
inversa à da insulina, ou seja, ele eleva os níveis
de glicose na circulação. Ele é apresentado
em 2 frascos, um com o pó Glucagon (a apresentação
disponível nas farmácias contém 1mg) e
o outro com diluente. Após limpar a tampa de borracha
do frasco de diluente com álcool, aspirar com a seringa
de insulina 1 cc do mesmo e injetar no frasco que contém
o pó. Agitar o frasco para que o Glucagon em pó
possa dissolver-se no líquido. Usando a mesma seringa
de insulina, aspirar 0,5cc dessa solução e aplicar
por via subcutânea, de maneira semelhante à aplicação
de insulina. Caso o paciente não se recupere em 10 a
15 minutos, deve ser conduzido a um hospital.
Para
evitar a hipoglicemia o paciente deve seguir estritamente as
doses de medicação prescritas pelo seu médico.
Não deve ingerir outros medicamentos, receitados por
outros médicos sem consultar seu diabetologista, pois
muitos medicamentos interagem com os
hipoglicemiantes, potencializando sua ação e induzindo
hipoglicemia.
Procure
seguir as orientações dietéticas, respeitando
o número de refeições, jamais deixando
de se alimentar. Caso pretenda mudar suas atividades físicas,
seja por mudanças no trabalho ou por pretender iniciar
a prática de um esporte, converse com seu médico
para que proceda uma adaptação em sua dieta e
plano terapêutico.
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Dra.Jane
Feldman
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Endocrinologista
- São Paulo - SP
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