Dr.
José Luís Simonetti
A
Cirurgia, como todas as áreas da sociedade tem progredido
muito. Com o advento da Anestesia e auxiliados pela Cirurgia
Experimental, a Cirurgia cresceu vertiginosamente em todas as
áreas. A associação da alta tecnologia
com a "miniatuarização" de equipamentos
de imagem proporcionaram uma verdadeira revolução
nos procedimentos cirúrgicos. Inicialmente na Laparoscopia
Diagnostica, que consiste na observação do interior
das cavidades naturais, muito usadas na Ginecologia, mais recentemente
chegamos ao uso na Cirurgia Geral, utilizando-se da Vídeo
Lapararoscopia, que introduziu novos termos e novas opções,
abrindo um horizonte infinito à nossa frente.
Através
de pequenos orifícios, entre 5 e 10mm, são introduzidos
os "trocartes" (capas), e através destes, uma
infinidade de pinças e instrumentos especialmente criados
para este tipo de cirurgia, em muitos casos adaptações
de instrumentos usados durante anos na cirurgia convencional.
Visando proporcionar um maior espaço para o trabalho
da cirurgia, desenvolveram-se aparelhos insufladores de gases,
preferencialmente o gás carbônico, que administram
constantemente gases na cavidade, mantendo-a "insuflada",
como um balão, permitindo então o trabalho do
cirurgião. A visão do interior da cavidade a ser
abordada é feita por um complexo sistema de reprodução
de imagem, constituído por uma óptica com visão
variando entre 0 e 45 graus de incidência, acoplados a
uma micro-camera, que após captar as imagens às
expõe em um monitor, semelhante a um aparelho de televisão.
Para uma adequada iluminação, desenvolveu-se sistemas
especiais de luz fria e branca, para não haver aquecimento
inadequado das delicadas estruturas internas e nem alteração
visual dos órgãos internos, o que poderia resultar
em erros de procedimento, com a luz sendo transportada através
de cabos de fibra óptica de um instrumento ao outro.
Para
facilitar a ligadura (amarra) de vasos sangüíneos
e estruturas que necessitassem serem fechadas durante as cirurgias,
adaptou-se os "clipes" de metal, o titânio.
Para as anastomoses, como são tecnicamente chamadas as
emendas feitas pelo cirurgião entre as estruturas separadas
na cirurgia, houve a adaptação do "stapler",
que é um tipo de "grampeador", que substitui
os pontos antes feitos manualmente. Como pode-se observar, este
método é a junção de grandes avanços
tecnológicos, adaptados ou desenvolvidos especialmente
para este fim. Esta seguramente é uma das explicações
por que só agora este tão grande benefício
está a disposição dos pacientes.
Inicialmente
recebida com ceticismo, a Vídeo Laparoscopia cresceu
e difundiu-se com uma velocidade espantosa. Primeiramente na
Europa e quase que simultaneamente nos Estados Unidos e no Brasil,
inúmeros centros e relatos começaram a ser apresentados
de casos operados e novas cirurgias que poderiam ser realizadas
por este método com a formação de ótimos
profissionais. Tanto que é impossível hoje se
falar em abordagem cirúrgica sem pensar em Vídeo
Laparoscopia. Seja no abdome, no tórax, útero,
quase tudo enfim. Os preceitos para a cirurgia do câncer
estão bem estabelecidos e já bem aceitos. Na virada
do século, o desafio brasileiro é baixar custos
e formar cirurgiões por vídeo Laparoscopia que
saibam também operar por via convencional. Não
se discute mais se o método é bom ou não
e sim como adapta-lo a realidade tupiniquin e treinar tantos
em tão pouco tempo, com a segurança necessária.
E
a evolução continua. Já há relatos
do uso dos micro-laparoscópios, com o absurdo tamanho
de 1,75 mm e de instrumentais tão pequenos quanto. Na
Belgica, a Bioengenharia já tem protótipos de
robôs sendo dirigidos à distancia pelos cirurgiões,
numa tentativa de garantir o acesso as novas tecnologias em
vilarejos distantes ou até, quem sabe, garantir bons
cirurgiões em bases espaciais. O que disto tudo irá
ficar só o tempo dirá, mas seguramente já
podemos afirmar que o século dos "grandes cirurgiões,
grandes incisões", definitivamente acabou. Mesmo
no nosso sofrido terceiro mundo..
Dr.
José Luis Simonetti
Cirurgia Geral e Vídeo Laparoscópica - Presidente
do Departamento de Cirurgia Vídeo lapararoscópica
da Sociedadede Medicina e Cirurgia de Campinas - Coordenador
do Departamento de Cirurgia Vídeo Laparoscópica
do Hospital Virtual.