Adriana
Marques dos Santos
A
Cada um de nós impinge um ritmo diverso à
vida. Algumas vezes estamos mais "elétricos",
outras mais lentos. No entanto, temos um ritmo próprio,
adaptável às diversas situações
de vida, mais flexível ou não dependendo de
como somos. A atenção a este ritmo próprio
e pessoal é uma das variáveis que nos permite
estar bem ou não conosco mesmos. O processo de saúde
ou doença que criamos depende diretamente de como
nos relacionamos com nosso próprio ritmo e também
do respeito a ele.
Quando
falamos de ritmo, indiretamente nos referimos ao processo de
Stress. Este processo tão comum em nossa sociedade é
inevitável. Na Idade da Pedra também era muito
comum, pois o homem naquele período também tinha
que assegurar a sua sobrevivência. Atualmente a nossa
sobrevivência também é uma luta diária
e constante. As manchetes dos jornais, o cotidiano sobrecarregado
de problemas e decisões nos leva ao universo do Stress.
O
Stress é uma reação do organismo a estímulos
externos ou internos, relacionados a necessidade de luta ou
fuga. No entanto há o Stress positivo e o Stress negativo.
Quando positivo, o Stress nos impulsiona a realizar e a concretizar
coisas e nos possibilita um nível adequado de Adrenalina.
Ele é necessário à concretização,
pois está associado diretamente ao impulso para buscar
a realização de algo. Quando negativo gera um
nível excessivo de Adrenalina que ocasiona um colapso
em nível corporal, físico ou emocional, atuando
de modo a desequilibrar todo o nosso funcionamento.
O
Stress positivo ou negativo estão associados a como nos
relacionamos com nosso ritmo interno, o quanto temos conhecimento
dele e o quanto o respeitamos. Respeitar o próprio ritmo
significa buscar uma adequação daquilo que nos
é exigido pelo meio externo ou interno (às vezes
somos os nossos piores carrascos) e aquilo que podemos realmente
executar.
A
doença surge muitas vezes como um alerta do corpo à
necessidade de mudar o ritmo. Os sintomas nunca são puros
sintomas, senão amostras de algo maior que nos está
acontecendo. Funcionam como um alerta àqueles que aprendem
a ouvi-lo. O corpo é um grande sábio. O nosso
único mal é que somos educados de modo a não
ouvi-lo ou respeitá-lo. E assim, nosso ritmo que está
bem dentro de nós é desrespeitado a cada momento,
criando novos desequilíbrios e doenças (físicas,
emocionais ou mentais).
E
como aprender a respeitar o nosso ritmo se estamos tão
acostumados a desrespeitá-lo? Esteja atento a como é
o seu despertar. Você acorda descansado ou cansado, com
energia e vigor ou sem vontade de fazer nada? O que você
faz durante o dia, suas tarefas, como você as realiza?
Com motivação ou sem desejo algum de realizá-las?
Você equilibra a quantidade de coisas motivantes que realiza
com aquelas com as quais não se identifica? Você
faz do seu trabalho algo emocionante e prazeroso? Sim, é
possível tornar as tarefas mais enfadonhas em, pelo menos,
algo melhor de ser realizado. É possível transformar
o trabalho em fonte de prazer (claro que não a única).
É possível alcançar o equilíbrio
entre o prazer no trabalho e a vida cotidiana. É possível
também sentir prazer com coisas aparentemente pequenas
(observar um pôr do sol, o céu, as estrelas, a
lua, o sorriso de uma criança, o próprio riso,etc).
Tudo isso são modos de aprender a administrar o próprio
Stress. O prazer é necessário à vida. Buscar
coisas que tragam prazer, é algo essencial à vida.
Também transformar o nosso viver diário, o modo
como realizamos as coisas é fundamental. O prazer é
a expressão máxima do respeito àquilo que
somos, necessitamos. Claro que nem sempre estamos em estado
de prazer, inclusive para alcançarmos o prazer, algumas
vezes passamos por momentos de desprazer. No entanto, a grande
chave é como passamos por estes momentos e o que construímos
com cada um deles. Sentimo-nos perdedores quando acordamos?
Ou sentimo-nos vencedores por estar mais um dia vivos e cheios
de coisas a realizar? Como lidamos com as nossas dificuldades
cotidianas? Como algo transponível ou como algo que me
exige um esforço sobrehumano? A idéia de obstáculo
intransponível é algo que dispara as reações
de stress negativo. Também gera reações,
em nível emocional, de desestímulo e incapacidade
frente à realidade. Assim, deixamo-nos governar pelo
ritmo externo: acomodação que percebemos em grande
parte das pessoas diante de uma realidade dura que parece intr
assim a percebemos? O que fazemos para alterar nosso modo de
reagir a ela?
O
Stress negativo nos paraliza, seja através de um colapso
nervoso, parada cardíaca ou reações emocionais
fortes, tais como a Depressão, as Crises de Pânico.
São diversas as suas formas de expressão. No entanto
se aprendemos a lidar conosco mesmos, estando atentos a nosso
ritmo interno e relacionando-nos com a realidade e nossos limites,
podemos viver de um modo mais digno, equilibrado. Inclusive
podemos criar uma realidade mais aprazível, em meio a
tanta adversidade. A realidade é aquilo que criamos dentro
de nós mesmo, com base naquilo que acreditamos e que
aprendemos a crer durante toda nossa vida. Há uma pequena
história que pode ilustrar melhor o que digo. Um repórter
perguntou a um pedreiro o que ele estava fazendo. Este lhe respondeu:
'Quebrando pedras, Doutor." Dirigiu-se então a um
segundo pedreiro, que lhe disse: "Estou garantindo o sustento
de minha família." Por último a um terceiro,
que lhe contestou: "Estou ajudando a construir uma grande
catedral." Pense, sinta, reflita. A escolha de como você
vive o seu dia-a-dia é apenas sua.
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ADRIANA
MARQUES DOS SANTOS
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Psicóloga
(CRP:05/21755), Gestalt-terapeuta e especializada em Análise
e Condução de Grupos pela Universidad de Barcelona.
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